sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Curiosidade

Por que a cadela Baleia possui nome e os filhos de Sinha Vitória e Fabiano não?
Porque os meninos, o mais velho e o mais novo, que, por não terem nomes próprios representam uma condição de anonimato em que vivem os sertanejos. A cadela Baleia que é humanizada e faz contraponto à animalização da família.

Introdução da Obra Vidas Secas

Vidas Secas  é o último romance de Graciliano Ramos e a única experiência do autor com foco narrativo na terceira pessoa. Um tênue fio narrativo faz o leitor conhecer a história de uma família de retirantes nordestinos que foge da seca, encontra período de passageira estabilidade e parte novamente em
retirada quando as chuvas deixam de cair, prenunciando um novo período de seca. A economia (de estilo, de linguagem, de vida e de cenário) pode ser destacada como a característica básica da narrativa.

Vidas Secas é um romance cíclico: inicia-se com a seca — cap. 1 “Mudança” — e encerra-se com os prenúncios da nova seca que se aproxima — cap. 13 “Fuga”. Cada capítulo concentra-se mais particularmente numa das personagens: Fabiano, Sinha Vitória, os dois meninos e Baleia. O foco
narrativo, em cada capítulo, parte de Fabiano, passa por Sinha Vitória, detém-se nos dois meninos, para terminar em Baleia.


Análise da Obra


Tipos de Narrador
No romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, encontramos a narração em terceira pessoa, com narrador onisciente. Podemos encontrar muitas vezes os discursos indiretos livres. É o próprio narrador que revela o interior dos personagens através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens.

Tempo da Narrativa
O tempo de narrativa medeia duas secas. A primeira que traz a família para a fazenda e a segunda que a leva para o Sul. Mesmo possuindo algumas referências cronológicas na obra, o tempo é psicológico e circular.

Espaço da Narrativa
O espaço é físico, refere-se ao sertão nordestino, descrito com precisão pelo autor.


Perfil dos Personagens



Personagem Protagonista
Fabiano – Nordestino pobre, marido de Sinhá Vitória, pai de dois filhos. Procura trabalho desesperadamente, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Possui grandes dificuldades lingüísticas, mas é consciente delas. Homem bruto com dificuldade de se expressar, possui atitudes selvagens. Por não saber se expressar entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor.

Personagens Secundários
Sinhá Vitória – Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora, sonhadora e inconformada com a miséria em que vive, trabalha muito. É a mais inteligente de todos controlando assim as contas e os sonhos de todos.
Filho mais novo e Filho mais velho – São crianças pobres e sofridas que não tem noção da miséria em que vivem. O mais novo vê no pai um ídolo, sonha sobressair-se realizando algo, enquanto o mais velho é curioso, querendo saber o significado da palavra inferno, desvendar a vida e ter amigos.
O dono da fazenda – Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto, explorava seus empregados.
O fiscal da prefeitura – Intolerante e explorador.
Baleia – Cadela da família, tratada como gente, humanizada em vários momentos e muito querida das crianças.
Tomás de Bolandeira - Aparece somente por meio de evocações, é tido como referência por Fabiano e Sinhá Vitória.
Seu Inácio – Dono do bar.

Personagem Antagonista
Soldado Amarelo – Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano
.

Epítome da Narrativa

Capítulo 1 - Mudança

É a história da retirada de uma família, fugindo da seca. Fazem parte dela Fabiano, sua esposa Vitória, dois filhos, caracterizados pelo autor apenas como " menino mais novo" e "o menino mais velho", e a cachorra Baleia (deve-se lembrar que o romance fala em seis viventes, contando com o papagaio que eles comeram por não haver comida por perto). Nesse capítulo temos a descrição da terra árida e do sofrimento da família. As personagens não se comunicam; apenas duas vezes o pai, irritado com o menino mais velho, xinga-o. Essa falta de diálogos permanece por todo o livro, como também a intenção de não dar nome às crianças, para caracterizar a vida mesquinha e sem sentido em que vivem os retirantes, que não têm consciência de sua situação, embora, ainda nesse primeiro capítulo, Fabiano e Vitória sonhem com uma vida melhor: "Sinhá Vitória, queimando o assento no chão, as moas cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão.

Mais adiante é Fabiano quem sonha: "Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinhá Vitória engrossariam, a roupa encarnada de sinhá Vitória provoca ria a inveja das outras caboclas ... e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria o dono daquele mundo... Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A caatinga ficaria verde.

Capítulo 2 - Fabiano

Mostra o homem embrutecido, mas ainda capaz de analisar a si próprio. Tem a consciência de que mal sabe falar, embora admire os que sabem se expressar. E chega à conclusão de que não passa de um bicho.

Capítulo 3 - Cadeia

Aqui, pela primeira vez, aparece a figura do soldado amarelo, que mais tarde voltará simbolizando a autoridade do governo. Igualmente, pela primeira vez, insinua-se a idéia de que não é apenas a seca que faz de Fabiano e sua família pessoas animalizadas. Ele é preso sem qualquer motivo e toma a analisar sua situação de homem-bicho. Só que, desta vez, não tem mais coragem de sonhar com um futuro melhor. Ao fim do capítulo, temos Fabiano ciente de sua condição de homem vencido e, pior ainda, sem ilusões com relação à vida de seus filhos.